MUDANÇA / Regina Duarte deixa a Secretaria da Cultura para assumir a Cinemateca em São Paulo

Bolsonaro nega “fritura” da atriz e anuncia a mudança na pasta ao lado dela, em um vídeo no Twitter

A atriz Regina Duarte deixou na manhã desta quarta-feira a Secretaria da Cultura do Governo de Jair Bolsonaro. Ela, que havia assumido a pasta há pouco mais de dois meses, será transferida para o comando da Cinemateca Brasileira, em São Paulo, onde mora, alegando saudades da família. A informação foi confirmada em vídeo publicado na conta oficial de Bolsonaro no Twitter, onde Regina aparece bem-humorada e agradecendo ao presidente. A permanência de Duarte no Governo Bolsonaro já vinha sendo colocada em xeque havia algumas semanas, mas no anúncio o presidente negou ter “fritado” a atriz, a despeito de ter desidratado o poder da agora ex-secretária no comando da cultura do país.

No vídeo, Regina Duarte questiona, em tom de brincadeira, se Bolsonaro a estava “fritando” enquanto secretária da Cultura. “Toda semana, tem um ou dois ministros que estão sendo fritados para a imprensa. O objetivo é sempre desestabilizar a gente e jogar o Governo no chão. Não vão conseguir. Jamais iria fritar você”, respondeu entre risadas o presidente. A atriz agradece a Bolsonaro e chama de “sonho” e “presente” ser nomeada para comandar a Cinemateca, além de confirmar a “saudade dos netos” como motivo para deixar Brasília e voltar a São Paulo.

CONFIRA O VÍDEO NA ÍNTEGRA:

Regina Duarte e Jair Bolsonaro / Vídeo: Youtube


Regina Duarte assumiu a pasta no dia 4 de março de 2020, após uma novela de quase dois meses que se seguiu depois da demissão do antecessor Roberto Alvim, que usou trechos de um discurso nazista em um de seus pronunciamentos. O “noivado entre Bolsonaro e a atriz foi mais marcante do que o breve período em que a intérprete efetivamente ocupou a pasta de Cultura. Sem implementar políticas para o setor, principalmente no momento em que a pandemia do novo coronavírus prejudica financeiramente artistas de todo o país, Duarte demorou dois meses apenas para nomear seu número 2. Pedro Horta, que era seu chefe de gabinete, assumiu como secretário especial adjunto.

Alvo de críticas da ala olavista do Governo mesmo antes de assumir a secretaria, Duarte enfrentou dificuldades até o último momento para fechar sua equipe. O pesquisador Aquiles Brayner, por exemplo, indicado para a diretoria do Departamento de Livro, Literatura e Bibliotecas, foi demitido três dias após sua nomeação, devido à pressão de perfis bolsonaristas nas redes sociais. Depois, Brayner afirmou que tais grupos formam um “grande complô para derrubar qualquer ação legítima no âmbito da cultura”.

Os momentos mais marcantes da breve passagem da atriz pela pasta foram seu silêncio perante as mortes de pilares da cultura brasileira, como o cantor e compositor Moraes Moreira, o escritor Rubem Fonseca e o compositor Aldir Blanc. Cobrada por profissionais do setor e pela imprensa, Duarte afirmou, em entrevista à CNN, no dia 7 de maio, que preferiu prestar suas condolências diretamente às famílias dos mortos —informação depois negada pelos familiares dos artistas.

A entrevista à CNN foi, quiçá, o adeus inicial à Secretaria Especial de Cultura. Durante a conversa, ela minimizou as mortes ocorridas durante a ditadura militar brasileira, chegando a rir sobre o assunto enquanto cantava a marchinha Pra Frente Brasil, símbolo da época. A entrevista acabou tornando-se um bate-boca entre a então secretária da Cultura e os apresentadores, e Duarte encerrou a conversa ao vivo, recusando-se a responder mais perguntas.

A atriz assume agora a Cinemateca em São Paulo, instituição federal com mais de 70 anos que se dedica a preservar a produção audiovisual brasileira. O mais cotado para substituí-la na Secretaria é o ator Mário Frias, que se encontrou ontem com Bolsonaro em um almoço, que também contou com as presenças dos presidentes de Vasco e Flamengo, para discutir a volta do futebol no país.

FONTE: El País
EDIÇÃO: Eduardo Machado

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