Somente em 2023, já são 125 trabalhadores resgatados em situação análoga à escravidão no Piauí

No início de agosto, o Ministério Público do Trabalho do Piauí e a Superintendência Regional do Trabalho e Emprego resgataram 31 trabalhadores em uma fazenda localizada na zona rural de Nazária

EDUARDO MACHADO
PARNAÍBA-PIAUÍ
09h18. - Atualizada às 09h35.

O Grupo Especial de Fiscalização Móvel de Resgate de Trabalhadores resgatou, na última ação realizada durante a "Operação Resgate III", 42 trabalhadores em situação análoga à escravidão, no Piauí, operação essa realizada em nível nacional. Com esses, o estado já acumula 125 trabalhadores resgatados em situação análoga à escravidão somente em 2023.

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Ministério Público do Trabalho regional Piauí.
Foto: Divulgação.

No início de agosto, o Ministério Público do Trabalho no Piauí e a Superintendência Regional do Trabalho e Emprego resgataram 31 trabalhadores em uma fazenda localizada na zona rural de Nazária. Entre os resgatados havia um menor de idade. Eles estavam atuando na atividade de extração da palha da carnaúba. A operação foi acompanhada diretamente pelo Procurador-Chefe do MPT-PI, Edno Moura, e pelo auditor fiscal do trabalho Robson Waldeck.

Eles estavam alojados em um casebre sem as condições mínimas de higiene e conforto. Os banheiros não tinham sanitários em funcionamento, fazendo com que os trabalhadores fizessem suas necessidades no mato. O banho também era feito de forma improvisada com água armazenada em tanques. Os alimentos também não eram condicionados em locais adequados e eram preparados em fogareiros improvisados no chão. A refeição era apenas arroz e feijão.

As irregularidades não param por aí. Os trabalhadores também não recebiam equipamentos de proteção individual para o exercício de suas atividades e eram obrigados a arcar com os custos dos equipamentos, caso desejassem. Além disso, não fizeram exames admissionais, não tinham carteira de trabalho assinada, não tinham direito a férias, décimo terceiro salário e arcaram com os custos do pagamento do transporte dos seus municípios de origem (a maioria vindos de Picos e Itainópolis). “Os relatos é de que recebiam diárias que variavam entre R$ 50,00 a R$ 80,00, dependendo da atividade desempenhada e, quando adoeciam, não recebiam assistência dos empregadores e não recebiam os valores referentes às diárias, ou seja, ficavam totalmente desassistidos. Alguns dos trabalhadores dormiam também ao relento, em redes armadas próximas às cocheiras, onde os animais se alimentavam”, completa o Procurador-Chefe do MPT no Piauí, Edno Moura.

Outra situação constatada durante as fiscalizações é que os trabalhadores já chegavam devendo e muitos sequer sabiam o montante devido. “Alguns recebiam, de forma antecipada, cerca de R$ 600,00 que deixava com a família. Iam trabalhando para pagar a dívida, mas ela só aumentava. Eles compravam os EPIs, por exemplo, com o patrão, sendo que é de responsabilidade do empregador fornecer. Eles compravam e sequer sabiam o quanto estavam pagando pelo item”, relata o auditor fiscal do trabalho Robson Waldeck, que participou da operação.

A operação foi deflagrada após denúncias que chegaram até a Procuradoria. “Cada vez mais, temos a sociedade como parceira dos órgãos de fiscalização no combate ao trabalho escravo. Essa parceria é fundamental porque somente com a participação de todos, poderemos reduzir os casos de trabalho escravo”, ressaltou o procurador Edno Moura, destacando que as denúncias podem ser feitas de forma anônima e sigilosa, tanto de forma presencial, quanto pelos canais oficiais como o Disque 100, o WhatsApp (86) 9 9544 7488 ou pelo site www.prt22.mpt.mp.br.

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